NA ESTANTE: Ai, que ranço!
Livros com personagens rançudos que temos vontade de socar!
Sei que existem personagens chatos, irritantes e até aqueles que amamos odiar. Mas… e os RANÇUDOS? Aqueles que nos aborrecem e dão ranço, e que quase custam a leitura de um bom livro?
O ranço é um sentimento muito especificamente brasileiro e difícil de descrever - em algumas regiões, diríamos que pegamos “abuso” da pessoa. E o que mais acontece, ao lidarmos com rançudos, é revirar os olhos ou bufar. São pessoas que não necessariamente são chatas, mas que são um pé no saco.
Então vamos a boas histórias que um ranço quase estragou:
1. Crônicas Vampirescas.
Mesmo quem nunca leu sequer um livro de Anne Rice deve ter visto em algum lugar Tom Cruise vestido de Vampiro Lestat, em Entrevista com o Vampiro, um dos personagens vampirescos mais complexos e bem construídos de todos os tempos (me perdoa, Drácula!). Mas como sobreviver aos livros tendo que aturar LOUIS?
O vampiro que dá início à saga de New Orleans, narrando sua história para um jornalista, passa pelos 13 livros da coleção RECLAMANDO. “Olha como sou sentimental, eu tenho consciência”. Um mala. (tecnicamente ele não participa ativamente de todos os livros, ninguém aguentaria. Mas você me entendeu)
Louis de Pointe du Lac, nascido em 1766 e transformado em vampiro pelo próprio Lestat, passa pela narrativa de Entrevista como um grande coitado. Tanto é que no livro seguinte, O Vampiro Lestat (que considero muito mais interessante do que o primeiro), o belo Lestat está puto da vida com tanto nhénhénhé. E com a forma como foi descrito pelo amigo. E narra isso em primeiro pessoa.
— Mostrem-me o livro — eu disse. Trouxeram do outro quarto um pequeno “romance” em papel inferior, caindo aos pedaços. A encadernação se soltara, a capa estava rasgada e as folhas estavam presas por um elástico. Tive uma espécie de calafrio sobrenatural quando vi a capa. Entrevista com o vampiro. Algo relacionado a um jovem mortal que se comunicava com um morto-vivo. Com a permissão deles, fui para o outro aposento, estiquei-me na cama deles e comecei a ler. Quando cheguei na metade, levei o livro comigo e saí da casa. Fiquei parado imóvel debaixo da luz de um poste na rua com o livro, até terminá-lo […]
[…] Li o livro várias e várias vezes. E então, num momento de profunda indignação, rasguei-o em pedaços.
Até o último dos livros, Louis segue melancólico e se lamentando (um chatonildo fraco), enquanto Lestat (arrogante, ousado e inicialmente descrito como vilão), se torna o protagonista irresistível das crônicas.
2. Emma.
Se por um lado, Elizabeth Bennet (de Orgulho e Preconceito) é ousada, cabeça dura e independente, e as irmãs Dashwood adoráveis nas suas diferenças (em Razão e Sensibilidade), por outro, Emma (do mesmo livro) nos faz perder um pouco a paciência.
SINOPSE:
Emma Woodhouse, bonita, inteligente, rica e solteira, está perfeitamente feliz com sua vida e não vê necessidade de se apaixonar ou de se casar. Nada, no entanto, a agrada mais do que interferir na vida romântica dos outros. Mas quando ela ignora as advertências do sr. Knightley e tenta arranjar um marido para sua amiga e protegida Harriet Smith, seus planos — tão cuidadosamente elaborados — não saem como ela imaginava.
Com ironia e delicadeza, Jane Austen explora em Emma as responsabilidades sociais delegadas às mulheres, a falta de controle sobre o próprio destino e, claro, a força do amor.
Emma, como todos os livros de Jane Austen, é um retrato das mulheres e suas relações com a sociedade da época. Então é normal que esse livro também gire em torno do casamento, que era uma grande preocupação feminina (por questões de sobrevivência mesmo) - não é o fato de Emma ser uma alcoviteira que prejudica a história. A narrativa é muito leve e gostosa, e possui intrincadas nuances de sentimentos e angústias. O que atrapalha é o comportamento da própria protagonista, que é frívola e esnobe demais.
Para mim, tanto no livro quanto nesse filme com a Anya Taylor-Joy (e na versão dos anos 90, com Gwyneth Paltrow) o ranço pela menina rica está muito presente, e só é diluído na versão Patricinhas de Beverly Hills onde a personagem Cher (que representa Emma) é mais ingênua, fofa e sem noção do que mimadinha.
3. O Diabo Veste Prada.
Alerta BIG RANÇO!
O último livro certamente tem o personagem mais rançudo de todos os tempos - o namorado de Andy Sachs, a estagiária de Miranda Priestley.
Se você só assistiu ao filme, te digo que não muda muito a sensação em relação ao personagem do livro - embora o livro tenha sim algumas diferenças e valha a pena ler (spoiler: a Andy manda a Miranda se foder em um momento, e é delicioso e catártico).
Há anos me incomodo com o personagem do namorado, que para mim é o verdadeiro vilão da história: prepotente e paternalista, acha que o trabalho de Andy é menor e superficial, ridiculariza e bota pressão o tempo todo para que ela largue o emprego. Se a personagem dela fosse homem, seria só mais um filme sobre um cara abrindo caminho num ambiente de trabalho tóxico.
SINOPSE:
O mundo da moda não é para iniciantes. Especialmente em Nova York. Para conquistar espaço ― o mínimo que seja ― é preciso muitas vezes experimentar o pão que o diabo amassou. Ou mesmo vender a alma ao dito-cujo. Mas será que vale a pena tanto sacrifício? Com conhecimento de causa, Lauren Weisberger lança a questão com charme e bom humor no romance O diabo veste Prada, que revela, em detalhes, histórias de personagens facilmente identificáveis no mundinho fashion de Nova York. O resultado é um livro saboroso, fiel ao melhor estilo da nova literatura feminina de humor, sucesso de público nos Estados Unidos, já tendo sido publicado em 27 países e que chegou aos cinemas em 2006, com Meryl Streep e Anne Hathaway nos papéis principais.
Lauren Weisberger trabalhou como assistente da todo-poderosa-amada-e-odiada editora da revista Vogue, Anna Wintour. Assim, qualquer semelhança de O diabo veste Prada com a realidade não é mera coincidência.
Ainda bem que esse chatonildo tóxico não atrapalha um livro e filme deliciosos!
4. Bônus
Aqui vão dicas relacionadas a esse último rancinho: a continuação A Vingança Veste Prada, e Anna, a biografia de Anna Wintour (lançamento).
SINOPSE:
Quase dez anos depois de abandonar o emprego dos sonhos de qualquer garota na revista Runway ― que acabou se tornando um pesadelo por causa de sua insuportável chefe ―, a aspirante a jornalista Andy Sachs está de volta!
Seus dias pendurando incríveis casacos de pele, levando bandejas e correndo de um lado para o outro em saltos altíssimos para atender prontamente às mais inusitadas ordens ficaram para trás. Agora, o único café que ela carrega é o seu próprio. E talvez um para seu noivo, o incrível Max Harrison, um dos “melhores partidos” de Nova York. De seu passado na Runway restaram apenas ocasionais pesadelos e ataques de pânico ao se lembrar da ex-chefe e uma – extremamente improvável – amizade com Emily, antiga companheira de trabalho. Juntas, as duas resolveram fundar uma revista especializada em cobrir os glamorosos casamentos dos ricos e famosos. Sofisticada, estilosa e de bom gosto, The Plunge é a revista mais luxuosa neste segmento, uma Runway para noivas. Agora tudo parece estar em ordem e harmonia na vida de Andy. Mas não por muito tempo. Seja no dia de seu casamento ou pouco depois da lua de mel, surpresas aparecem nos momentos mais inoportunos e deixam sua próspera vida de pernas para o ar. E, quando menos espera, ela ainda se depara com uma velha conhecida, que traz consigo uma nova coleção de acessórios e uma lufada do famoso Chanel Nº 5.
Estaria o passado voltando para assombrá-la? Deveria Andy esquecer o sossego dos últimos anos e voltar ao mundo supostamente fabuloso de Miranda Priestly? Os destinos de Andy, Emily e Miranda parecem estar ligados, quer ela queira, quer não. Com o grande sucesso da Plunge, o grupo Elias-Clark, onde Miranda reina, vê na revista um ótimo investimento. E, se o diabo está nos detalhes, este não vai deixar nada passar.
Spoiler que está na resenha: o namorado já era!
Quanto à biografia de Anna, por enquanto só em inglês no Brasil.
Clica na imagem abaixo para ler mais sobre:
Ui que ranço que me deu lembrando do namorado da Andy. Ui.
E contribuindo aqui com minha dica de ranço pra mim faltou o Peeta do Hunger Games (Jogos Vorazes) eita piá mais chato!!