NA ESTANTE: Muito além de Torto Arado.
Livros para quem não conseguiu superar essa bela e triste história.
Se você não derramou nenhuma lagriminha lendo Torto Arado (nem que mentalmente), é melhor checar sua pulsação. Belo sim, triste também, abridor de olhos certamente - o livro é um sucesso e não é a toa. Além de bem escrito, sensível e outros adjetivos, acredito que ele tenha sido o primeiro contato que uma parcela da sociedade brasileira teve com uma realidade diferente. E talvez também por isso tenha viralizado tanto: ele trouxe uma nova consciência para muitas pessoas.
Se você se apaixonou pelo livro, ou se planeja lê-lo ainda, aqui vão outras obras com temática parecida, e que podem te marcar do mesmo jeito.
1. Um Defeito de Cor.
Antes de Torto Arado, um livro afim já tinha mexido com minha cabeça.
Sinopse:
Fascinante história de uma africana idosa, cega e à beira da morte, que viaja da África para o Brasil em busca do filho perdido há décadas. Ao longo da travessia, ela vai contando sua vida, marcada por mortes, estupros, violência e escravidão. Inserido em um contexto histórico importante na formação do povo brasileiro e narrado de uma maneira original e pungente, na qual os fatos históricos estão imersos no cotidiano e na vida dos personagens. Um Defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves, é um belo romance histórico, de leitura voraz, que prende a atenção do leitor da primeira à última página. Uma saga brasileira que poderia ser comparada ao clássico norte-americano sobre a escravidão, Raízes.
Essa é uma história comprida (é um livro bem grosso), que pode assustar leitores mais iniciantes, mas sua leitura é compulsiva, então encare sem medo. Aqui, vemos a raiz de tudo, as origens de várias questões estruturais que permanecem até hoje,
Um Defeito andou, para que Torto pudesse correr hoje em dia. E amar a um é um forte indício de que você amará ao outro também.
2. O Avesso da Pele.
Um soco no estômago, o sensível (embora muito impactante) O Avesso da Pele foi vencedor do Prêmio Jabuti 2021.
Sinopse:
O avesso da pele é a história de Pedro, que, após a morte do pai, assassinado numa desastrosa abordagem policial, sai em busca de resgatar o passado da família e refazer os caminhos paternos. Com uma narrativa sensível e por vezes brutal, Jeferson Tenório traz à superfície um país marcado pelo racismo e por um sistema educacional falido, e um denso relato sobre as relações entre pais e filhos.
O que está em jogo é a vida de um homem abalado pelas inevitáveis fraturas existenciais da sua condição de negro em um país racista, um processo de dor, de acerto de contas, mas também de redenção, superação e liberdade. Com habilidade incomum para conceber e estruturar personagens e de lidar com as complexidades e pequenas tragédias das relações familiares, Jeferson Tenório se consolida como uma das vozes mais potentes e estilisticamente corajosas da literatura brasileira contemporânea.
Aqui, vemos questões raciais e sociais parecidas, de forma contundente, mas sob a ótica masculina. Com personagens muito bem construídos, essa história vai ficar dias sem sair da sua cabeça.
3. Quarto de Despejo
Queria ser imparcial, mas dentre os ótimos livros listados hoje, meu queridinho é a obra de Carolina Maria de Jesus. Talvez por não ser tão triste (e sim, tem muita melancolia e tristeza), mas talvez por ter tanta ESPERANÇA e POESIA. Ou por ser um diário real, e que deu origem a uma escritora hoje tão reconhecida.
Sinopse:
Do diário de Carolina Maria de Jesus surgiu este autêntico exemplo de literatura-verdade, que relata o cotidiano triste e cruel de uma mulher que sobrevive como catadora de papel e faz de tudo para espantar a fome e criar seus três filhos na favela do Canindé, em São Paulo. Em meio a um ambiente de extrema pobreza e desigualdade de classe, de gênero e de raça, nos deparamos com o duro dia a dia de quem não tem amanhã, mas que ainda sim resiste diante da miséria, da violência e da fome.
Não se deixe enganar - apesar de ter sido publicado na década de 60, ainda está super atual (eu o peguei novamente para dar uma olhada, e ele poderia facilmente ter sido escrito hoje). E você pode pensar: “ah, mais um livro cheio de desgraça, é demais para mim”, mas o que vejo em Quarto é realmente o lirismo das descrições, o anseio pela vida melhor. Então sim, embora dolorido, para mim sua beleza supera tudo.
Carolina fez morada em meu coração.
4. Bônus
A foto impressionante que abre essa edição faz parte da série Nouvelle Semence (2010), realizada em Camarões pelo fotógrafo italiano Giovanni Marrozzin, e foi a inspiração dessa linda capa de Torto Arado.
A talentosa artista e ilustradora, Aline Bispo (também conhecida como Linoca Souza), deu vida ao imaginário de Itamar Vieira Junior, e seu trabalho também pode ser visto em lugares públicos, como no Minhocão de São Paulo.
Clique na imagem abaixo e leia mais sobre ela e seu trabalho.
Bom, separa os lencinhos e vem ler essas preciosidades.
(não esquece de contar qual livro faltou na lista, aí nos comentários)